Entenda como a documentação adequada da cadeia de custódia pode determinar a admissibilidade e o valor probatório de evidências digitais em processos judiciais
Publicado em 25/04/2025 | Categoria: Perícia Forense
A cadeia de custódia é o processo documentado que registra a cronologia do manuseio, posse, transferência e análise de evidências, desde sua coleta até sua apresentação em juízo. Em termos simples, é o histórico detalhado que comprova que a evidência apresentada é exatamente a mesma que foi coletada na cena do crime ou incidente, sem alterações ou contaminações.
No contexto de evidências digitais, a cadeia de custódia assume importância ainda maior devido à natureza volátil e facilmente alterável dos dados eletrônicos. Diferentemente de evidências físicas tradicionais, as evidências digitais podem ser modificadas, corrompidas ou apagadas sem deixar traços visíveis, muitas vezes com um simples clique. Uma cadeia de custódia inadequada pode comprometer completamente o valor probatório de evidências digitais, levando à sua inadmissibilidade em processos judiciais.
A primeira etapa da cadeia de custódia envolve a identificação das potenciais fontes de evidências digitais e sua preservação imediata para evitar alterações. Esta fase é particularmente crítica, pois muitos dados digitais são voláteis e podem ser perdidos se os procedimentos adequados não forem seguidos rapidamente.
Em um caso de invasão de sistemas corporativos, a equipe de TI da empresa, na tentativa de resolver rapidamente o problema, reiniciou servidores e limpou logs antes da chegada dos peritos. Esta ação, embora bem-intencionada, destruiu evidências cruciais sobre o método de invasão e possíveis rastros do invasor, comprometendo significativamente a investigação e o posterior processo judicial.
A coleta de evidências digitais deve seguir metodologias forenses rigorosas para garantir que os dados originais não sejam alterados. Isto geralmente envolve a criação de cópias forenses (imagens bit-a-bit) dos dispositivos de armazenamento, utilizando bloqueadores de escrita e ferramentas especializadas que garantem a integridade dos dados.
Em um processo de disputa trabalhista, o advogado da empresa simplesmente copiou arquivos do computador do ex-funcionário para um pendrive, sem utilizar técnicas forenses adequadas. Durante o julgamento, a defesa demonstrou que este método alterou metadados dos arquivos (como datas de último acesso), comprometendo a cronologia alegada e levando à rejeição das evidências pelo juiz.
Após a coleta, as evidências digitais precisam ser transportadas e armazenadas de forma segura para evitar danos físicos, degradação ou acesso não autorizado. Esta etapa frequentemente é negligenciada, mas pode ser crucial para manter a integridade da cadeia de custódia.
Em um caso criminal, um disco rígido contendo evidências cruciais foi armazenado próximo a um forte campo magnético, resultando em corrupção parcial dos dados. A defesa argumentou com sucesso que a integridade das evidências havia sido comprometida, já que não era possível determinar quais dados haviam sido afetados e se as alterações foram acidentais ou intencionais.
Durante a análise forense, os peritos examinam as cópias das evidências (nunca os originais) para extrair informações relevantes. Cada etapa deste processo deve ser meticulosamente documentada, incluindo ferramentas utilizadas, procedimentos seguidos e resultados obtidos.
Em um caso de propriedade intelectual, o perito utilizou uma versão desatualizada de software forense com bugs conhecidos que podiam alterar certos tipos de arquivos durante a análise. A parte contrária contratou um assistente técnico que identificou esta falha metodológica e demonstrou que os resultados poderiam ter sido afetados, comprometendo a credibilidade de todo o laudo pericial.
A etapa final da cadeia de custódia envolve a apresentação das evidências em juízo e sua eventual disposição após o encerramento do processo. Mesmo nesta fase, a documentação adequada continua sendo essencial para manter a integridade da cadeia de custódia.
Em um processo de fraude eletrônica, evidências digitais foram apresentadas em juízo sem documentação adequada sobre quem teve acesso a elas entre a análise inicial e a audiência. A defesa argumentou que esta lacuna na cadeia de custódia abria a possibilidade de manipulação, e o juiz determinou que as evidências tinham peso probatório reduzido devido a esta falha processual.
Falhas na documentação ou na manutenção da cadeia de custódia podem ter consequências graves para processos judiciais envolvendo evidências digitais:
Em casos onde a cadeia de custódia apresenta falhas significativas, o juiz pode determinar que as evidências digitais são inadmissíveis, excluindo-as completamente do processo e potencialmente comprometendo todo o caso.
Mesmo quando admitidas, evidências com problemas na cadeia de custódia podem ter seu valor probatório significativamente reduzido, recebendo menos peso na avaliação do juiz ou júri.
Falhas na cadeia de custódia abrem oportunidades para a parte contrária questionar a autenticidade e integridade das evidências, semeando dúvidas sobre sua confiabilidade.
Peritos e profissionais que não seguem procedimentos adequados de cadeia de custódia podem enfrentar questionamentos sobre sua competência profissional e, em casos extremos, responsabilização legal.
No Brasil, diversos dispositivos legais e normativos estabelecem requisitos relacionados à cadeia de custódia de evidências digitais:
Artigos 158-A a 158-F (incluídos pela Lei 13.964/2019) estabelecem requisitos específicos para a cadeia de custódia de vestígios, aplicáveis também a evidências digitais.
Estabelece requisitos para tratamento de dados pessoais, incluindo aspectos de segurança e documentação que impactam a coleta de evidências digitais.
Estabelece diretrizes para identificação, coleta, aquisição e preservação de evidências digitais, incluindo requisitos para cadeia de custódia.
Decisões de tribunais superiores têm reforçado a importância da cadeia de custódia adequada para admissibilidade de evidências digitais em processos judiciais.
Uma documentação eficaz da cadeia de custódia deve incluir, no mínimo, os seguintes elementos:
Cada item de evidência deve receber um identificador único e permanente
Características físicas e lógicas do item, incluindo marca, modelo, número de série, capacidade
Data, hora e duração de cada etapa do processo, desde a coleta até a disposição final
Nome, função e contato de cada pessoa que teve posse ou acesso às evidências
Motivo pelo qual cada pessoa acessou as evidências e ações realizadas
Descrição detalhada de metodologias, ferramentas e versões utilizadas em cada etapa
Valores de hash calculados em diferentes momentos para verificar integridade
Detalhes sobre como e onde as evidências foram armazenadas em cada etapa
Nossa equipe especializada em perícia digital implementa procedimentos rigorosos de cadeia de custódia em todas as etapas do processo forense:
Utilizamos metodologias e ferramentas forenses certificadas para coleta de evidências digitais, seguindo rigorosamente protocolos de cadeia de custódia que garantem a admissibilidade em processos judiciais.
Nossa equipe multidisciplinar, com formação em direito e tecnologia, produz documentação de cadeia de custódia que atende tanto aos requisitos técnicos quanto às exigências legais específicas do sistema judiciário brasileiro.
Não permita que falhas na cadeia de custódia comprometam suas evidências digitais.
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